Comendo produtos enlatados
ou o que tem de mais barato no mercado
algo que fique pronto rápido e não demande sacrifícios
algo que não agrida a minha depressão
que dificulta movimentos naturais para muitos
ou que não danifique o tédio
que impossibilita que desgrude
meu fedor desagradável
do leito fúnebre
Porque não promover uma alimentação saudável
que não esteja nas mãos dos que enriquecem com o câncer
entre outras doenças?
Porque não sou agricultor
Não tenho esta bela habilidade
Porque não tenho mais forças
Não consigo continuar
Porque meu sono é um horror
Minhas lágrimas denigrem minha carne
como ácido sulfúrico corroendo as camadas da epiderme
Porque me debato contra a parede chapiscada
vendo o sangue tingir a pele esfolada
sem acreditar em nada belo ou santo
sem perceber nada que venha de bom no termo humano
como bolas de tumor vendidas no espetinho
de uma praça florida
cheia de famílias felizes
que não percebem a desintegração de uma mentira cuidadosamente elaborada
pelos malditos seres inescrupulosos
que comem vísceras de crianças indefesas
cobradas pelo resto da vida
pela desgraça que lhes foi imposta
como algo muito natural
e o molho pré fabricado
tão gorduroso quando a diarreia bizarra que sai do meu cu
ofendendo as hemorroidas que latejam
transformando o mais simples ato em sofrimentos incalculáveis
E as tormentas que convertem a existência em chicotadas desgraçadas
dolorosas e constantes
como a dor da morte que parece ser maior que tudo
até mesmo que o verdadeiro fim
que pode vir de muitas formas
desde suspiros imperceptíveis
até agonias infinitas
ou o pulmão apodrecido pelo cigarro da propaganda que mostrava um cara escalando uma montanha
e a felicidade carcomida que cai em grãos
como a ferrugem ou a erosão
Não vendo sentido no discurso puro e cadavérico
que acomoda e imobiliza
tentando vender a bondade e o amor como algo próprio de uma natureza fria e cruel
fazendo o apresentador de domingo soltar uma gargalhada hipócrita, mentirosa, calamitosa
Estamos sozinhos em nossas tormentas incalculáveis
Estamos representando absurdos incentivados
Estamos mesmo não estando
Somos seres inflamáveis (em todos os sentidos)
Por uma criatura hedionda
para a Editora Merda na Mão
*Sem exemplo ou sentimentos nobres